Drica Bitarello lê Merline Lovelace
Olá leitoras lindas desse país incrível chamado Brasil. Hoje temos mais uma autora nacional maravilhosa resenhando um livro pra gente. Estamos falando de Drica Bitarello, autora de Reino dos Céus, Fogo Vermelho e A Cruz e o Crescente, romances medievais de tirar o fôlego de qualquer leitor. Drica, assim como boa parte da equipe Cherish, é uma leitora apaixonada pelo trabalho de Merline Lovelace, e assim que o convite foi feito, ela aceitou prontamente. Uma diva brasileira falando de uma de uma das divas supremas do gênero romance. Uma resenha para ser apreciada.
O convite inesperado chegou nos últimos dias de 2018: “Drica, você leria um livro da Merline Lovelace que ainda será lançado? ” O que acham que respondi, sim ou com certeza?
Foi assim que começou minha incrível jornada ao inóspito e recém-nascido Wyoming de 1867. Uma estadia fascinante, intensa, profunda e, às vezes, brutal no lendário Forte Laramie.
O romance “A Esposa do Soldado”, da americana e ex-oficial da Força Aérea Merline Lovelace, me prendeu do início ao fim. Com sua escrita precisa e repleta de detalhes minuciosamente pesquisados, Merline nos transporta para dentro do cotidiano das pessoas endurecidas e resistentes que vivem na fronteira dos jovens territórios americanos.
A autora tem uma longa lista de romances históricos em seu currículo e, para mim, pode ser considerada uma verdadeira Diva do gênero. Suas histórias, sempre ricamente pesquisadas, parecem ter encontrado o ápice neste livro. Cada ínfimo detalhe da ambientação foi pesquisado, de forma que nos sentimos parte dos residentes de Laramie. Como, por exemplo, na cena em que os contingentes do Forte recebem seu pagamento. Até mesmo o valor do soldo das diferentes patentes e das lavadeiras ela pesquisou! Fiquei impressionada com toda essa riqueza que, longe de ser apresentada de forma descritiva e monótona, é inserida na trama naturalmente, sem didatismo. Pura arte!
Dentro de todo esse contexto, temos o romance entre Julia Rubichaud e o major Andrew Garrett, que é tão intenso, selvagem e cru quanto as intermináveis terras das planícies. Somos tragadas para o redemoinho de emoções que se torna a vida de Julia e de sua filha Suzanne. Ambas são abandonadas no Forte Laramie pelo condutor de sua caravana, já que seus recursos para pagar pela viagem se esgotaram. Em sua chegada ao Forte, a sulista e empobrecida Julia é confrontada com um passado que tenta a todo custo esquecer. O major Garrett, que um dia foi um espião ianque infiltrado em Nova Orleans, e com quem ela se envolveu e se casou em segredo, é nada menos do que o segundo em comando de Laramie e tem seu destino e o de sua filha nas mãos. E para Julia essa é uma notícia péssima, já que ela delatou Andrew ao tio, o que quase custou a vida dele. Aliás, até dar de cara com Andrew no Forte Laramie, Julia acreditava que ele havia morrido. Ou seja, é o mundo desabando na cabeça desses dois!
A história de superação de Julia, que antes da guerra e da pobreza era conhecida como A Bela de Nova Orleans, é por si só apaixonante. Decidida a sustentar a si e à filha, ela passa por muitas privações que, ao contrário de abatê-la, vão torna-la cada vez mais forte e independente como nem a própria Julia acreditava que poderia ser.
Tanto Julia quanto Andrew guardam profundas mágoas um do outro. Ela se sente traída e usada por ele. Ele se sente traído e ressentido com ela. Nenhum dos dois confia um no outro. A rusga entre eles é tamanha que em determinado momento chegamos a pensar: não tem como esse casal dar certo. Mas é aí que entra Merline, nossa especialista em juntar casais muuuuito diferentes (quem já leu A Teia do Destino e Tormenta de Emoções que o diga...). E ela faz tudo isso sem que a história perca a verossimilhança. Acho isso incrível!
Andrew é um protagonista que talvez não agrade logo de cara. Tem um caráter honesto, direto e profundamente correto. Ele é tão duro quanto a vida que leva em Forte Laramie, mas seus homens têm tanta confiança em sua liderança que poderiam segui-lo ao inferno. O major não faz o tipo romântico, nem tampouco é um “gostosão”. Ele é simples, quase grosso às vezes, mas com um coração grande e justo. Sua luta contra os próprios fantasmas é outra nuance do livro que me conquistou.
Existem cenas muito duras e muito cruas no livro. Cenas que talvez possam chocar algumas pessoas, especialmente uma delas. Mas só uma escritora muito corajosa e muito sensível como a Merline poderia escrever uma cena daquelas e nos fazer sentir o quanto a época em que se passa o romance era dura e hostil, principalmente para as mulheres.
Outro ponto de destaque são os personagens secundários. Longe de serem apenas um desfile de nomes que são largados aqui e ali para servirem de escada para as cenas dos protagonistas, eles tem dimensões e se tornam familiares e queridos ao longo da narrativa. Tanto que nós nos vemos torcendo por seus destinos também, tanto quanto torcemos para Julia e Andrew se acertarem. E para a filha de Julia, Suzanne, deixar de ser uma chata insuportável.
Aliás, Suzanne foi a personagem que mais me irritou. Achei a menina mimada demais e juro que teve horas em que torci para a autora dar um fim nela. Nela e no Coronel Cavanaugh. (e vocês só vão saber se Merline me atendeu lendo o livro!).
Enfim, se eu fiquei muito feliz com o convite para a leitura de “A Esposa do Soldado”, eu fiquei encantada após a leitura e profundamente agradecida à Cherish Books por estar trazendo de volta essas autoras maravilhosas e consagradas que eu, assim como várias leitoras da minha geração, consumíamos avidamente nos romances históricos vendidos em bancas na década de 1990. Meninas, não estamos mais órfãs dessas Divas!
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